Polícia bandida
Revista ISTOÉ - 16/10/2006
Assaltantes do Banco Central em Fortaleza são seqüestrados e extorquidos por policiais de São Paulo. Eles serão pegos?
Polícia Federal redescobriu uma velha inimiga: a polícia estadual de São Paulo. Nos últimos meses, agentes da PF empreenderam uma verdadeira caçada ao bandido Raimundo Laurindo Barbosa, um dos participantes do assalto de R$ 164,7 milhões à sede do Banco Central, em Fortaleza. A Interpol tomou parte nas investigações, escutas telefônicas foram plantadas e agentes disfarçados entraram em campo. Ele foi preso em setembro, mas só na semana passada os federais descobriram que por duas vezes seguidas ele fora seqüestrado por policiais civis paulistas. E, em ambas, para ser libertado do cativeiro teve de pagar R$ 450 mil aos policiais. “A polícia bandida, infelizmente, ainda é uma instituição brasileira”, disse um agente federal a ISTOÉ.
Entre os 23 assaltantes que limparam o cofre do BC, Raimundo foi o nono a ser extorquido por policiais mediante seqüestro. Na matemática dos federais, os assaltantes já gastaram cerca de R$ 10 milhões para pagar seus próprios resgates. Outros R$ 30 milhões foram endereçados à contabilidade do PCC. De volta ao Banco Central chegou, apenas, 20% do dinheiro roubado. O caso de Raimundo é emblemático. Ele era uma espécie de coordenador dos comparsas, sempre com celulares à mão. Seqüestrado por policiais paulistas – a PF já tem dois suspeitos –, Raimundo foi preso quando geria seus “negócios” a partir de uma fazenda comprada com o dinheiro do roubo ao BC.
Para chegar até ele, os federais realizaram escutas telefônicas que foram divulgadas pelo jornal O Estado de S.Paulo. No dia 20 de abril, Raimundo ligou para seu irmão Jeovan para avisar que estava preso num cativeiro e pedir R$ 300 mil, a fim de comprar sua liberdade com os policiais. Logo em seguida, Raimundo ligou para sua mulher, Liduína Barbosa, e pediu que ela arrumasse R$ 50 mil. À noite, R$ 300 mil foram entregues por enviados de Raimundo aos responsáveis por seu cativeiro, numa operação concluída em São Bernardo do Campo. Antes disso, ele já havia pago R$ 100 mil.
A primeira denúncia do envolvimento de policiais paulistas com o bando criminoso do BC ocorreu em novembro de 2005. Fernando Ribeiro, o Fê – que teria ficado com R$ 25 milhões do furto –, foi levado por dois homens da porta de uma boate, na zona sul de São Paulo, assim que desceu de sua caminhonete cabine dupla. O bandido ficou seqüestrado até que sua família depositou o resgate de R$ 2 milhões aos agentes paulistas. É este o setor policial que deveria investigar a quadrilha. O assaltante foi encontrado morto dias depois. Um inspetor de polícia e um escrivão foram presos e encaminhados para a penitenciária da Polícia Civil Ataliba Leonel.
Lá, podem receber visitas a qualquer hora, usam laptops de última geração, têm televisores tela plana e alimentação vinda dos principais restaurantes paulistas. Coisa para gente fina.
Por Alan Rodrigues
Fonte:
Revista Isto É de 18 de outubro/2006 nº 1930 pg. 44
Revista ISTOÉ - 16/10/2006
Assaltantes do Banco Central em Fortaleza são seqüestrados e extorquidos por policiais de São Paulo. Eles serão pegos?
Polícia Federal redescobriu uma velha inimiga: a polícia estadual de São Paulo. Nos últimos meses, agentes da PF empreenderam uma verdadeira caçada ao bandido Raimundo Laurindo Barbosa, um dos participantes do assalto de R$ 164,7 milhões à sede do Banco Central, em Fortaleza. A Interpol tomou parte nas investigações, escutas telefônicas foram plantadas e agentes disfarçados entraram em campo. Ele foi preso em setembro, mas só na semana passada os federais descobriram que por duas vezes seguidas ele fora seqüestrado por policiais civis paulistas. E, em ambas, para ser libertado do cativeiro teve de pagar R$ 450 mil aos policiais. “A polícia bandida, infelizmente, ainda é uma instituição brasileira”, disse um agente federal a ISTOÉ.
Entre os 23 assaltantes que limparam o cofre do BC, Raimundo foi o nono a ser extorquido por policiais mediante seqüestro. Na matemática dos federais, os assaltantes já gastaram cerca de R$ 10 milhões para pagar seus próprios resgates. Outros R$ 30 milhões foram endereçados à contabilidade do PCC. De volta ao Banco Central chegou, apenas, 20% do dinheiro roubado. O caso de Raimundo é emblemático. Ele era uma espécie de coordenador dos comparsas, sempre com celulares à mão. Seqüestrado por policiais paulistas – a PF já tem dois suspeitos –, Raimundo foi preso quando geria seus “negócios” a partir de uma fazenda comprada com o dinheiro do roubo ao BC.
Para chegar até ele, os federais realizaram escutas telefônicas que foram divulgadas pelo jornal O Estado de S.Paulo. No dia 20 de abril, Raimundo ligou para seu irmão Jeovan para avisar que estava preso num cativeiro e pedir R$ 300 mil, a fim de comprar sua liberdade com os policiais. Logo em seguida, Raimundo ligou para sua mulher, Liduína Barbosa, e pediu que ela arrumasse R$ 50 mil. À noite, R$ 300 mil foram entregues por enviados de Raimundo aos responsáveis por seu cativeiro, numa operação concluída em São Bernardo do Campo. Antes disso, ele já havia pago R$ 100 mil.
A primeira denúncia do envolvimento de policiais paulistas com o bando criminoso do BC ocorreu em novembro de 2005. Fernando Ribeiro, o Fê – que teria ficado com R$ 25 milhões do furto –, foi levado por dois homens da porta de uma boate, na zona sul de São Paulo, assim que desceu de sua caminhonete cabine dupla. O bandido ficou seqüestrado até que sua família depositou o resgate de R$ 2 milhões aos agentes paulistas. É este o setor policial que deveria investigar a quadrilha. O assaltante foi encontrado morto dias depois. Um inspetor de polícia e um escrivão foram presos e encaminhados para a penitenciária da Polícia Civil Ataliba Leonel.
Lá, podem receber visitas a qualquer hora, usam laptops de última geração, têm televisores tela plana e alimentação vinda dos principais restaurantes paulistas. Coisa para gente fina.
Por Alan Rodrigues
Fonte:
Revista Isto É de 18 de outubro/2006 nº 1930 pg. 44
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